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Na noite da Europa brilham estrelas que Portugal acende.
E brilham a iluminar a noite do tempo, qual serena estrela a afagar outra estrela…
De dia estão, em vigilante harmonia, à espera de vez. Chamadas a iluminar a noite, só então marcam presença.
Convocadas a brilhar, tanto mais respondem SIM, quanto de breu são as trevas.
Se mais negra que Guerra Iníqua escuridão não há, não esquece a Humanidade os luzeiros que aí brilham.
LUZ SOLITÁRIA de tão tenebrosa noite não é SOUSA MENDES, sabemo-lo bem. Outras se acendem, em constelação discreta, a irradiar seu fulgor.
Só quem rasteja em dignidade vendida, nunca brilhou nem há-de brilhar.
Daí a incontornável questão, neste “rectângulo” de FINISTERRA: – Terá sido só o Homem de Santa Comba a fazer a noite do tempo?… Não era também obra nossa talhá-lo tão humanista quão estadista?… – Não é a consciência dos Povos a matriz de seus governos?… – Não é, pois, de todos nós essa grande abdicação?…
– Que cada um responda por si, em vez de se continuarem a atirar pedras sobre essa tal “pesada herança” que, por se ter reduzido a tão “leve”, em insignificância se esvai…
Ofício nº 180 do Cônsul de Portugal em Marselha, José Augusto de Magalhães, para o Ministério dos Negócios Estrangeiros.
Marselha, 31 de Dezembro de 1940.
Excelentíssimo Senhor Dr. António de Oliveira Salazar Digníssimo Presidente do Conselho e Ministro dos Negócios Estrangeiros LISBOA
Excelência:
Dando cumprimento às ordens de Vossa Excelência, transmitidas pela Legação em Vichy, dei-me pressa em transmitir aos vários postos dependentes e aos de Lyon e Pau, em obediência às instruções dela recebidas, a Circular cuja cópia junto, em duplicado como anexo nº 1.
2) -Visei, com tal circular, organizar, tanto quanto possível, o serviço de Vistos, permitindo, porém, a prorrogação dos vistos já concedidos e que, por causas estranhas aos interessados, não puderam ser utilizados no devido prazo.
3) – É possível que a Polícia de Vigilância e Defesa do Estado tenha sobejas razões para restringir o direito de livre trânsito às pessoas, quando o vejo ainda respeitado para as mercadorias, mas o que não sofre dúvida é que a revogação pura e simples da alínea 3ª das Instruções de 13 de Junho de 1940, retira, por completo, aos funcionários consulares o direito de apreciação de casos que merecem, por vezes, ser considerados sob um ponto de vista mais liberal e menos policial, no interesse do nosso próprio país.
4) – Há casos, e são numerosos, em que o candidato a um Visto de trânsito não pode receber aqui os recursos de que aí pode dispor para a aquisição da sua passagem.
5) – Outros há, como o do Anexo nº2, que só podem conseguir o Bilhete definitivo da passagem para o Ultramar, após a obtenção dos indispensáveis Vistos consulares.
6) – O Consulado da Espanha, que, até há pouco, não concedia vistos sem longas “démarches” em Madrid, acaba de conceder todas as facilidades para os nacionais de Países neutros que volvem aos seus lares.
7) – O anexo nº 3 encerra um problema que este Consulado não pode resolver e que parece-me envolver um bom nome da administração portuguesa e para a solução do qual me permito apelar para Vossa Excelência, visto a ineficácia do apelo que, em 8 de Novembro passado, fiz à PVDE.
8) – Submetendo à apreciação de Vossa Excelência os Anexos referidos, ouso esperar uma atenuação das restrições ora impostas e a concessão de maiores facilidades aos que, dispondo de abundantes recursos para poderem seguir para os países de destino, estão encerrados num círculo vicioso do qual é difícil sair: – Vistos Consulares exigidos para compra definitiva da passagem; apresentação do Bilhete de passagem para obtenção do Visto de trânsito.
9) – A declaração das Companhias dos Vapores – de terem em depósito a importância das passagem a fornecer – não seria suficiente para a concessão do Visto de trânsito? , à Pan-American Airways e à Fondation Rockefeller não poderia ser concedida igual facilidade?
10) – Há correios diplomáticos de nações amigas que, para plena eficiência da sua delicada missão, não podem ser retardados de uma hora e, muito menos, de vários dias ora exigidos para consultas e decisões telegráficas. Só hoje estão chegando telegramas daí expedidos nos dias 21 a 23.
11) – Talharam-nos os nossos antepassados como Pátria uma orla da Europa à beira do Atlântico, constituindo hoje, pelo sábio e clarividente governo de Vossa Excelência, a única porta aberta sobre o resto do Mundo, pela qual poderão sair as vítimas das perseguições políticas e religiosas. Poderemos e deveremos nós, falseando a missão que decorre de tal posição, neste difícil momento histórico que a humanidade atravessa, interceptar o caminho e impedir a salvação dos que precisam sair deste Velho Mundo em convulsão?
12) – Incorrigível sonhador pelo meu espírito de trabalho e organização, considerando as necessidades da nossa indústria e das nossas colónias, eu esperava ver fixados os honestos e vastos capitais e as comprovadas competências técnicas que nos procuram, na nossa Metrópole ou no nosso Império Colonial, proporcionando-lhes um progresso de que eles poderiam ser factor decisivo. É-me, por isso, desagradável a missão negativista que as últimas disposições me impõem. Foi-me sempre penoso dizer – não – e hoje ainda mais do que nunca, impondo-se, por isso, a minha rápida e urgente substituição e, se possível, por um colega que sinta prazer em pronunciar aquele vocábulo e em criar dificuldades, mesmo às mais legítimas pretensões.
13) – Há criaturas que nascem para fazer mal e outras que só sentem prazer em fazer bem: – aquelas são consideradas por muitos uns fortes e as últimas são consideradas como fracos. Por um sentimento de lealdade devo declarar que pertenço ao número dos últimos e, ao dealbar de um Novo Ano, exprimo os ardentes votos que faço pela felicidade de Vossa Excelência que tanto é fazê-lo pela felicidade da nossa querida Pátria, que eu não desejo prejudicar nem embaraçar pelas minhas fraquezas, resultantes de um carácter que já não pode ser modificado, dada a idade a que cheguei.
Aproveito o ensejo para reiterar a Vossa Excelência os protestos da minha mais alta consideração.
A BEM DA NAÇÃO
a) Dr. José Augusto de Magalhães
Cônsul
Durante a Segunda Guerra Mundial, centenas de refugiados vieram para Portugal. Uns ficaram em hotéis de luxo, outros foram acolhidos por pobres. A história deu origem ao livro “Vilar Formoso Fronteira da Paz”.
Vilar Formoso Fronteira da Paz é um memorial aos Refugiados e ao Cônsul Aristides de Sousa Mendes.
Muitos que beneficiaram desse gesto continuam incógnitos, mas alguns nomes famosos são conhecidos, como é o caso de Arthur Koestler1, Alfred Döblin2, Heinrich Mann3, Antoine de Saint-Exupéry4, Erika Mann5, entre outros.
1 Escritor e jornalista húngaro 2 Expressionista e pioneiro do modernismo literário na Alemanha 3 Escritor alemão (muitas das suas obras foram queimadas pelos nazis) 4 Escritor, ilustrador e piloto francês, é o autor de um clássico da literatura “O Pequeno Príncipe” 5 Atriz, escritora e editora alemã (deixou um extenso trabalho composto por ensaios políticos, relatórios, diários de viagem e livros infantis
Vilar Formoso fronteira da paz é constituido por um pólo museológico constituido por seis núcleos: Gente como Nós, O Início do Pesadelo, A Viagem, Vilar Formoso – Fronteira da Paz, Por Terras de Portugal e A Partida.
A visita ao museu é feita através de um corredor em cujas paredes se vão contando episódios desta história e o visitante poderá “vestir a pele” de um refugiado no percurso até à Liberdade.
As imagens foram retiradas do website Vilar Formoso Fronteira da Paz